sábado, 17 de março de 2012

Um relampejo de plenitude

A minha tese de mestrado iniciava com o poema "Retrato" de Cecília Meireles. Senti que expressava exactamente a forma como muitos idosos se vêm. A forma como eu sinto que eles se vêm. Mesmo sem saberem disso conscientemente. Talvez expresse a forma como eu própria me vejo e como eu lido com o meu próprio envelhecimento. Expressa sobretudo uma realidade à qual é preciso chegar, que é preciso mudar.
Ao longo dos anos nunca escolhi deliberadamente trabalhar com esta população. Hoje não me vejo, para já, a fazer outra coisa.
Ao longo do último ano e meio de trabalho para a tese senti-me como que numa montanha russa. Altos e baixos de motivação, de auto-confiança, de realização. Hoje, na hora de fazer um balanço, acredito mais um bocadinho na importância do que fiz. Sobretudo na importância que o meu trabalho teve para as pessoas a quem se destinou. Espero ter contribuído com alguma alegria para os seus rostos, com algum sentido para o seu olhar, com alguma doçura para os seus lábios. Certeza tenho de que os seus corações se mostraram e enriqueceram a minha existência.
A defesa pública do trabalho foi a última descida íngreme, inicialmente carregada de ansiedade, depois tranquila e finalmente transbordante de alegria e entusiasmo. Mais que os elogios eventualmente merecidos e que a nota acima das expectativas, alegra-me este sentimento de me ter cumprido. Não de dever cumprido, mas de conseguir, apesar de todas as adversidades, manter-me fiel a mim mesma. Como se, não sabendo, eu nunca tivesse deixado de acreditar. Alegra-me sentir, novamente, um relampejo de plenitude.

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