O travão de mão do carro de uma doente tinha colado e ela sabia que havia qualquer coisa que se puxava por baixo da consola para o soltar, mas não sabia o quê. Deitei-me no chão, por baixo do assento da frente do carro. Levei o tempo necessário a acomodar-me. Quando me senti confortável, examinei a situação tranquilamente. Olhei durante alguns minutos. Inicialmente só vi uma confusão de cabos e tubos e hastes cujo significado não conhecia. Mas gradualmente, sem pressa, consegui focar o olhar no dispositivo de travagem e seguir o seu percurso. Então tornou-se claro que havia uma pequena alavanca que não deixava soltar o travão. Estudei a alavanca vagarosamente até se tornar claro que, se a empurrasse para cima com a ponta do dedo, a movimentaria com facilidade e soltaria o travão. Foi o que fiz. Um único movimento, alguns gramas de pressão de um dedo, e o problema ficou resolvido. Eu era um mestre mecânico!
Na verdade, nem tenho conhecimentos - nem sequer tempo para os adquirir - que me permitam resolver a maior parte das avarias mecânicas, dado que escolhi concentrar o meu tempo em assuntos não mecânicos. Portanto, continuo a ir a correr à oficina mais próxima. Mas agora sei que é uma escolha feita por mim, que não fui amaldiçoado, nem tenho uma deficiência genética, nem sou de outra forma incapaz ou impotente. E sei que eu ou qualquer outra pessoa, que não seja deficiente mental, podemos resolver qualquer problema se nos dispusermos a dedicar-lhe tempo.»
Scott Peck in O caminho menos percorrido
Tenho trinta e sete anos. Sei que existe uma alavanca que permite soltar o travão que me deixa estagnada onde estou, só não sei como se faz. Mas sei que preciso dedicar-me tempo.
Muito bem!
ResponderEliminarChegar a essa conclusão já me parece muito bom!!!
Feliz 2011