Não há uma vida para nos prepararmos para viver

Nunca tinha visto o filme "Voando sobre um ninho de cucos". Nunca tinha tido oportunidade.

Vi-o ontem numa aula de Psicologia Forense e, além das reflexões próprias que pude fazer no âmbito desta cadeira, houve algo que me tocou profundamente.

O filme passa-se numa instituição psiquiátrica onde há doentes que estão ali "voluntariamente" e outros que foram para ali encaminhados por instituições prisionais. Um dos personagens, quando interpelado no sentido de sair dali e viver a vida, diz que ainda não está preparado.

Esta pequena cena teve muito significado para mim. Costumo pensar muitas vezes assim e em muitas situações da vida: que não estou preparada, que não me sinto preparada. E caiu-me a fichinha do óbvio: não há uma vida para nos prepararmos para viver e outra para vivermos de facto. Há só uma oportunidade e essa oportunidade é agora, é hoje. O medo de errar, de não ser competente, de não saber o suficiente, de parecer ridícula não desaparece se eu me preparar convenientemente. Aliás tem o efeito contrário.

A única forma de estar preparada para viver é vivendo. Não é ir vivendo, mas viver mesmo: cair e levantar-se, errar e aprender com os erros, assumir que não se sabe tudo e estar sempre aberta para aprender, ser às vezes ridícula e aceitar isso...

Tudo isto numa altura em que me tenho questionado muito sobre o que quero realmente fazer com este curso. O que me vejo a fazer daqui a uns anos e o medo que sinto de não estar convenientemente preparada, de não ser competente e de perceber que isso me encerra em mim mesma e não me deixa ousar.

"Não estou preparada" tem sido um elefante branco muito presente nos meus pensamentos. Tenho que substitui-lo por outro mais colorido.

A fotografia é de Miriam